terça-feira, 23 de dezembro de 2008

comiserado


Num repente... assim sem mais nem porquê esborracharam-se-me cores de espírito...
Começo a pintura com um tom comiserado outonal... Folhas Rembrandtianas carregadas de sombras esguias carbonizadas como só ele o sabia...
Subo ao castelo dos pirineus embalado pelo mar de Magritte...
Grito com toda a força de Munch...
Avanço pelas infâncias Mirosianas... carrego todas as formas elementares até à estrela...
É lá que Klimtizamos... com beijos e preguiças...
O horizonte está seguro por muletas de Dali... e baloiça ao som de relógios sem tempo...

Um ano feliz!... carregado de todas as paletas...
Prometes-me que começas outra vez a pintar?!

Teu eu
JV

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

o presente de Natal


A crise já cá tinha chegado há muito tempo...







Saído de casa pelos seus 17 anos... Acabado de perder muita coisa... Vai reiniar vida em casa sem água canalizada, como já vivenciara anos antes... Era a sua casa de parcos anos...
Acartava a água como um aguadeiro.
Já sabia em tenra idade que o pequeno regador que lhe tinham arranjado levava 5 litros... e que tinha que ir à bica 4 vezes para encher o balde grande que aguardava em cima do móvel de cozinha... e já sabia o que era o 20 e o 10 e o 15...
Já na altura mandava nos adultos indicando-lhes como poupar o bem precioso...
A rua descia mais depressa do que subia... e lá arranjava metas por onde parar...
Desta vez só paro uma vez em toda a subida... Desta vez não vou parar... e eram essas as suas conquistas... o conseguir subir a rua desde a bica até ao balde grande sem parar...
Por vezes de já tantos paralelos gastar, lá parava para descansar...
Como a base do regador era pequena, esquecia-se de encostar a perna para o segurar... e lá se virava um regador de água para lá do meio do caminho...
Mais meia viagem perdida... como tantas outras meias viagens ao longo de sua vida...

Lá vai conseguindo tratar das crises que vão surgindo... por vezes parando a meio, outras vezes seguindo sem parar...

Esta tá quase...
E esse vai ser o presente de Natal mais belo que te poderei dar...
A paz... a paz de uma viagem sem crises...
A paz de uma viagem com paragens e sem metas...
A paz de uma viagem tão pura como a água que acartava no regador pequeno...
A paz da água de antigamente...

A bica ainda por lá existe... e ainda brota...

Que a nossa nascente continue para sempre a brotar... e nem que seja necessário ir viver de novo para casa sem água canalizada... mas viveremos em pleno!... e desta vez vamos os dois à bica... e guardaremos o regador pequenino... porque um dia, quem sabe, veremos um outro puto com as mesmas metas do puto de outrora...

Ainda ecoam os Zézinhos de voz quente de avó...
Ainda ecoam os Zés da tua voz quente...
Um dia ouvirei tua voz ecoar no meio da Natureza aclamando a semente... a nossa semente... o maior presente!...

Um xi
JV

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