quinta-feira, 20 de junho de 2013


Depois de ter ido ouvir e ver a Orquestra da Casa da Música, no Domingo, a brindar-nos com a 2ª de Rachmaninoff... eis que hoje sou presenteado com um outro tipo de saudade... a de Dostoievski!...

Não Sou Digno de um Anjo Tão Doce como Tu
Bom dia, anjo querido, beijo-te muito. Pensei em ti durante todo o caminho. Acabo de chegar. Sinto-me cansado e instalei-me para te escrever. Acabam de trazer-me chá, e água para me lavar, mas no intervalo escrevo-te umas linhas. (...) Na sala de espera da estação andei de lá para cá a pensar em ti e dizia comigo: mas porque deixei eu a minha Anuska?
Recordava tudo, até ao mais ínfimo escaninho da tua alma e do teu coração. Desde que casámos que descobri não ser digno de um anjo tão doce, tão belo, tão puro como tu - e que crê em mim. Como pude eu deixar-te? Para onde vou? Porquê? Deus confiou-te a mim para que nenhuma das riquezas da tua alma se perdesse - pelo contrário, para que tudo se desenvolva e floresça rica e esplendorosamente. Deus entregou-te a mim para que, por ti, eu resgate os meus enormes pecados, ao apresentar-te a Ele amadurecida, conservada, salva de tudo o que é baixo e ofende o espírito. E eu (...) eu o que faço é perturbar-te com coisas tão estúpidas como a minha viagem a este lugar.

Fiodor Dostoievski, in 'Carta a Anna Grigórievna Snítkina (1867)'
(Na sequência de uma viagem de Dostoievski a Hamburgo)

Escaninho - é realmente maravilhoso!


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