as horas
Vai mudar a hora...
Sair de casa escuro e voltar mais escuro ainda...
Luzes vermelhas do meu lado do trânsito e brancas do outro lado!...
Tudo parado!...
A chuva que cai...
Guarda chuvas molhados que entram em autocarros de sardinhas conserva... ensopando ainda mais quem por lá está...
Catarros matinais guardados exactamente para distribuir pela lata...
Últimas baforadas num cigarro que serve para aquecer, fumado com o estômago vazio...
Trocos que se deveriam ter guardado no dia anterior para pagar a corrida... mas que se gastaram na última pinga de bagaço...
As mãos trémulas, os lábios roxos, os sapatos enlameados...
Calcar lamas!... sentir grãos duros nas solas...
O cicatrizar dos solos...
Os vidros turvos...
Onde brincava às mensagens...
Onde desenhava corações e bonecos de nariz grande...
Onde marcava impressões digitais gravadas nesse bocado de fronteira com o mundo exterior...
Os fumos que saem das bocas...
Um dia vi os homens a deitar fumo pela boca...
E prometi a mim mesmo que quando isso acontecesse eu iria papagaiar...
E ainda hoje quando vejo os homens expirar... também expiro com todas as forças... e vejo o fumo sair... até que fui arranjando aprendizagens para fazer bolinhas de fumo... e vê-las subir pelo ar... Fui arranjando forças para ser locomotiva... para puxar todos os comboios que já pararam na minha estação!...
E ainda hoje vejo a pouca-terra que fomos criando...
-Olha pa'inho o comboi xá vai!...
Ganhava sempre uma festa nas bochechas... com uma lenga lenga acoplada...
Tuca-tuca saramuca...
E claro está um sorriso feito de dentes que se lavavam com carvão...
Voltaremos ao antigamente?!
Ou o comboio já partiu?!
Bom final de semana
José
2 Comments:
bom fds para ti também
Abraço
with a blow my dear :)
E é que este cenário passa-se em todo o lado. Todos o conhecem e nunca o escrevem. Passado para o papel fica bonito...
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