por força da (nossa) corrente
Por vezes fico assim absorto... És maré cheia de coisas novas...
Por falar em maré, e por um acaso, lembro-me do nosso Douro... e como vazio está o nosso Douro... Já se vislumbram ilhotas no meio do rio... como é possível?!
Noutros tempos quando os putos queriam entrar na canoagem e no remo... lá os mandavam atravessar o rio a nado... e lá íam... com mais ou menos esforço, mas o desejo de navegar e de ter um barco era tão forte, que lá se tocava a outra margem, por vezes longe do local desejado, porque a corrente era tão brava que os levava até Miragaia, quando o porto era a Ribeira... e o que custava atravessar aquele rio e combater a corrente... Agora, com meia dúzia de braçadas, estamos do outro lado...
Um destes dias quando os putos - os filhos da Ribeira - como lhes chamam, quiserem dar umas "toladas" usando a ponte D. Luís como precipício... ainda vão bater no fundo do rio - ou do riacho...
É engraçado que não tenho visto esta coisa discutida... mas gostaria, definitivamente gostaria, é que se vamos fazer uma ponte pedonal, provavelmente daqui a nada, essa ponte não vai ser necessária... atravessaremos o rio como se de um rio seco se tratasse...
Tristeza vs. Alegria...
Rio sem água - tristeza
Olhos sem água - alegria
Tu não tens culpa pelo rio, mas tens culpa pelos olhos...
Que o nosso (a)mar continue mesmo sem rios...
4 Comments:
Largo e de pequeno caudal, assim nasce o rio Douro.
É na dureza dos múltiplos apertos da rocha bruta e saliente que o seu contorno se faz sinuoso e o Douro salta e corre rápido, transformando o largo em profundo, caudaloso e indomável curso.
Corre entre fragas de curvas apertadas a beleza própria do que é selvagem. Erodindo, arrastando areias, mudando formas…
Toda a fúria tem seu porto… Em Portucale Castrum fez o mar largas as areias para que serene e se entregue, este rio cansado de ser assim tão caudaloso, em espelho de Sol queimando olhares.
Toda a essência tem que ser compreendida…
Mudou, esta água sempre nova, que as margens fazem Douro?
São as ilhotas, impossíveis ao teu olhar, falta de água? Talvez … Ou talvez aridez assoreada…
Mudou o teu olhar de rio?
…
nada muda... apesar de todas as águas respirarem ares distantes... Por vezes há os que perto da meta perdem a força... e nunca conseguem tocar objectivos... é o que vejo neste rio... começam faltar-lhe forças... começa a vergar-se às margens... e isso humedece olho... é rio humano de século XXI... falta coragem... conseguiram desencorajá-lo... conseguiram dobrar quem já galgou todas as margens...
É isso... somente isso!...
Será só isso talvez... falta de coragem...
Não conheço nada que se faça de um só isso...
Mas será só isso sim. Um rio humano do sec. XXI,vergado, exausto, subterraneo, escapando à entrega à foz.
Para quê pontes? Melhor poupar recursos... tens razão.
O rio vai verdadeiramente seco... O teu! Que o meu ainda é verdadeiramente o (D)ouro, não faz afirmação, continua a preferir a interrogaç?o dos cursos profundos e caudalosos… e... não! o c cedilhado não se fez erro :)
Até
Contemplava o rio da ponte D. Luis quando tudo parou de repente.
O movimento ribeirinho ficou estático. As águas pararam! Até a volta da espuma das pequenas ondas junto à foz se materializaram escultura.
À minha frente um homem suspenso do nada sorria-me estendendo-me a mão. Sorri-lhe… depois subi o guarda corpos, apertei-lhe a mão que me oferecia… deixei-me levitar com ele.
As estáticas águas abriram-se e corremos o fundo de um rio quente. Dançamos por entre o movimento das algas, acompanhando o movimento selvagem próprio do que é caudaloso.
Ali … no meio de um rio, quase foz, soubemos sabor a (a)mar.
Olhos ridentes conduziam à foz toda a água em que me fiz… transparente, adaptável a qualquer forma, saboreei o doce fundo de Ser eu! Ser só isso… eu dando a mão a um homem belo suspenso do nada…
O rio tornou-se denso e o homem parou! Olhou para mim em pânico! Não havia foz, apenas o azul vazio do nada. Não tinha promessa a que me conduzir…
O homem fez-se estátua e as voltas da espuma das ondas cumpriram desfazer-se.
Tirei o pé do guarda corpos… voltei ao chão... como é bela a Ribeira… perde-se da vista na curva do Cais das Pedras…
aDeus :)
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